Trairões no
fly, quase ao acaso!
Texto:
Alessio Freire
Fotos:
arquivo do autor
Seja com
iscas artificiais ou mesmo com um pedaço de peixe, fisgar um trairão da bacia
amazônica sempre será sinônimo de um bom e inesquecível combate.
Em rios com
águas transparentes com muitas pedras e troncos ou lagoas marginais, o pescador
deve estar atento a presença desta primitiva espécie, se o peixe for
visualizado, a chance de captura será bastante alta, se a isca cair em seu raio
de ação, o ataque é certo.
Em andanças
pelos rios Juruena, Iriri e Xingú em períodos mais secos, tivemos a
oportunidade de localizar alguns trairões desta maneira.
Trairão no
fly - Rio Iriri/Pará
Minha primeira captura de trairão no fly, foi
no rio Iriri no sul do Pará, de forma não planejada. Caminhando em suas
margens, tentando capturar alguns
matrinxãs, que faziam estardalhaços na margem oposta, procuro um local mais
raso para entrar no rio, para então realizar o arremesso com mais facilidade.
De repente, vejo a menos de 3 metros a minha frente, em local de pouca
profundidade, “ancorada” no leito pedregoso do rio, um trairão com pouco mais
de 5 kg que parecia repousar sob o forte sol amazônico da “volta do dia”.
Já que estava com um streamer montado para
matrinxãs e neste, um pequeno empate de aço flexível, resolvi arriscar, mesmo
com equipamento classe 6, digamos que um pouco subdimensionado para a situação,
já que para pescar trairão nesta modalidade, para maior segurança e poder de
alavanca, utilizaria um conjunto 8.
A distância que o peixe estava da margem era
tão pequena, que não arremessei, apenas deixei o líder fora dos passadores e
acompanhei a descida da isca até as proximidades da bocarra do trairão, com
toques curtos, o pequeno streamer verde limão com cauda branca, “dançava”
diante dos olhos do peixe, quinze segundos, foi o tempo necessário para o bicho
despertar e se interessar pelo engodo com pouco mais de 5 cm atado em anzol de
haste longa n° 2. Nesta situação, fisgar era uma coisa e tirar o peixe da água
era outra. Logo que sentiu a força contrária em sua mandíbula, o peixe nadou
rápido rio abaixo, começando a tirar com facilidade a linha da carretilha, uma
segurada na linha, fez com que o bicho saltasse com meio corpo fora d’água, a
vara 6 de 9 pés de ação lenta, envergara ao extremo. Com uns dez minutos de um
inesquecível combate, o peixe veio a margem.
Apesar de
ter capturado diversas pirararas, bicudas, matrinxãs e tucunarés naquele trecho
do rio, o combate com este trairão, utilizando um tippet 0,35 mm com
equipamento 6 fora algo realmente inesquecível.
Trairão no
fly – Rio Juruena
Anos depois, ao planejarmos uma pescaria no
rio Juruena, o amigo Christian Dalgas, que já realizara várias expedições por
aquela região, sugeriu que ficássemos atentos a presença dos trairões. Incluí
então na bagagem uma vara de fly de 9 pés classe 8, imaginando que serviria
também para a pesca de bicudas, cachorras e matrinxãs mais avantajadas, mas
principalmente se encontrasse um trairão, estaria melhor preparado.
Nossa
expedição teria a duração de 10 dias, e certamente poderia tentar encontrar uma
boa condição para realizar a pesca do trairão no fly.
De início,
nossa busca foi por grandes peixes de couro, que a propósito, foi bem sucedida,
com piraíbas, piraras e jaús.
Depois nos
dedicamos a pesca com iscas artificiais, estávamos embarcados perto de um
riacho que desaguava no Juruena, quando
alguns trairões começaram a atacar as nossas iscas de superfície. Mas naquela
condição, era praticamente impossível e inviável realizar a pesca de trairões
com fly.
Mais tarde,
em outro acampamento, fomos até uma pequena ilha para que o Christian
realizasse algumas fotos para seu livro sobre a Amazônia, desembarquei na ilha
com equipamento de fly, fiz diversos arremessos no pequeno canal, não obtive ações.
Porém ao
final de um trecho arenoso, a uns 15 ou 20 metros abaixo da ilha, lá estava uma
sombra similar a um pedaço de madeira, aliás um bom pedaço de madeira, mesmo
com óculos polarizado, devido a distância, não tinha a certeza de que seria um
trairão ou um tronco submerso. Com um streamer preto e vermelho equipado com
flash prateado, arrisquei o arremesso, deixando a isca cair lateralmente ao “objeto”,
uma puxada curta, duas e na terceira, o “tronco” se mexeu em direção ao streamer,
fiz outro movimento, desta vez mais lento e a sombra escura pegou a isca. Que
peso ! Parecia um grande enrosco, o peixe era mesmo dos bons. A carretilha logo
começa a “gritar”, por sorte, não haviam enroscos nas proximidades.
Foi o maior
trairão que tive a oportunidade de capturar utilizando equipamento de fly.
Inesquecível !!!
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