terça-feira, 5 de junho de 2012

Pirapitingas no fly


 Pirapitinga do Sul.
Texto: Alessio Freire
   Fotos: arquivo do autor

    

   Com as constantes intervenções da “civilização” na natureza, a brycon opalinus, tem se tornado cada vez mais rara, principalmente devido à degradação ambiental. Suas “irmãs” brycons mais conhecidas são a matrinxã, a piraputanga e a piracanjuba.
    Sua alimentação é composta por insetos, larvas, crustáceos e pequenos peixes, mas também, frutos, flores e até folhas, possuindo então hábito alimentar onívoro.
  Vivendo em águas límpidas, ela possui uma excelente acuidade visual, sendo tão arisca e desconfiada quanto à truta. Porém, mais bem adaptada ao clima tropical, pois diferentemente das trutas, ela sobrevive em águas com temperaturas superiores a 19° centígrados.


A Pirapitinga com seu corpo alongado e grande cauda, possui características marcantes: Uma mancha escura pouco antes da nadadeira caudal e força desproporcional ao seu tamanho.



O riacho da Biboca

   Para encontrá-las fomos ao riacho da Biboca, pertencente a Bacia do Rio Grande, ele fica “escondidim” em meio às serras próximas aos municípios de Guapé e Capitólio, no interior de Minas Gerais.

   Trata-se de um curto trecho preservado, que em parte se deve ao proprietário da fazenda Coromandel, Sr. Ivanir, que não deixa ninguém matar pirapitingas por lá, e por outro lado, a partir deste ponto até sua nascente, não há áreas de cultivo e nem habitações em suas margens, devido ao relevo acidentado.

  Rio abaixo, ainda é possível encontrar alguns pontos de pesca, que vão se tornando mais escassos à medida que o riacho se aproxima do lago de Furnas, no município de Capitólio(MG). Através de imagens de satélite, observamos diversas plantações em suas margens, que provocaram o desmatamento ciliar, assoreamento e falta de condições biológicas para a sobrevivência da espécie.
  

Pescando no ribeirão da Biboca
  
 
  Após uma boa prosa com o Sr. Ivanir, proprietário das terras onde fica este trecho do riacho da Biboca e a cachoeira do Lobo, iniciamos uma caminhada por uma trilha beira rio por cerca de 400 metros até a cachoeira. Vez por outra, era possível visualizar uma Pirapitinga, que tão logo notava nossa presença, nadava para debaixo das pedras. Tão ariscas quanto às trutas.
  A cachoeira do Lobo é muito procurada por banhistas, por isto, agendamos nossa pescaria para um dia de semana.
Nesta pescaria foi à família toda, até a dálmata. Depois de 30 minutos de caminhada num cenário exclusivo, chegamos ao ponto final. A exuberante cachoeira do Lobo, com uma queda livre de quase 5 metros, onde se forma um grande poço. Ali a pirapitingas se agrupam para esperarem os alimentos que vem da grande queda d’água.


Pescando com fly

  Como já havia pescado por lá em outras oportunidades, notei que os resultados eram melhores quando a isca podia ser arremessada logo “nos pés” da cachoeira. Porém com o vento frontal advindo da queda d’água, realizar estes arremessos era um desafio.
  Já sabendo desta dificuldade, para obter arremessos mais longos, utilizei uma vara de fly classe 6, porém com 10 pés (3,05 metros) de comprimento com linha sinking.
  Um pequeno streamer lastreado verde limão de atado próprio e uma tradicional Black Matuka renderam bons resultados.
  Em outros trechos do rio, sem fortes ventos frontais, equipamentos de fly classe 2 a 4 são ideais para a pesca de pirapitingas.

As capturas

  Na cachoeira, começo arremessando o streamer verde limão atado em anzol de haste longa nº6, com a expectativa de testar a nova isca levemente lastreada. Consigo colocá-la na queda d’água, depois de afundar um pouco, dou início ao recolhimento em velocidade média, e de cara uma Pirapitinga se encanta com a isca e nada velozmente em direção ao poço, para em seguida escapar.

  No segundo arremesso, a pegada típica e a corrida rápida inauguraram minha vara de mosca, fazendo arquear o longo caniço de 4 partes. Como o poço era largo, a briga com a Pirapitinga podia ser curtida tranquilamente, sem riscos de enroscar ou de passar a linha por entre pedras.
 As investidas abruptas, não deixavam dúvidas, havia um grande peixe esportivo na outra ponta da linha.
 Era um indicativo de que a pescaria seria promissora, e foi!
Ao arremessar, esperava cerca de 5 a 10 segundos, para o afundamento da linha e da isca, em seguida iniciava o recolhimento com velocidade variando de
média a rápida, em ambos os casos as pirapitingas atacavam.

  Como as pirapitingas já são ariscas, por serem mineiras, estas ainda pareciam ser mais desconfiadas, sendo assim, após alguns arremessos era preciso trocar a isca e assim variando entre uma e outra, foram várias capturas ao longo do dia.
A Luna também curtiu o passeio

  Em outros trechos do rio, ainda com fly, o ideal é utilizar varas mais curtas, de 7’3” pés por exemplo, para facilitar os arremessos sob árvores.
Neste caso o líder deve ser  transparente e ter o mesmo comprimento da vara.
  Com linha floating é possível experimentar alguns dry flies (moscas secas) que flutuam, nestes casos, as capturas serão ainda mais emocionantes.
  Para pescar em trechos mais estreitos do rio, o pescador deve tomar muito cuidado nas aproximações dos pesqueiros, caso contrário a pirapitinga nadará para debaixo de uma pedra e não sairá de lá tão cedo.

 

Dicas:

-Veículo: O acesso é feito por estrada de terra, por isto evite utilizar veículos muito baixos.

-Período: De outubro a março a pescaria é mais promissora, mas é possível pescar o ano todo.

-Hospedagem: Na própria fazenda há uma pousada com restaurante e área de camping, procure saber antes se terão banhistas na pousada.

- Outras pescarias próximas: Devido à proximidade com o lago de Furnas, vale a pena dispor de um tempo extra para se dedicar a uma pescaria de tucunarés, seja em Capitólio ou Guapé.


 Fortemente ameaçada de extinção, a Pirapitinga somente sobrevive em riachos oligotróficos, que pode ser traduzido em uma condição original (anterior aos impactos humanos) já denominada por alguns de era oligotrófica.
São águas que apresentam muito baixas concentrações de nutrientes, especialmente compostos de fosfato e azoto.
Diante desta  situação, praticar o pesque solte é primordial para evitar a extinção da espécie.
Equipamentos:

Flyfishing – Classes 3 a 6.Para a pesca na cachoeira comprimento de 9 a 10 pés. Para linha sinking ou sinking tip: líder de 1,5 metros e tippet 0,30mm
Para linhas floating: Lider de 1,80 a 2,2 metros com tippet 0,20 ou 0,25mm
 Para  trechos mais estreitos, varas com comprimento de 7’3” a 7’6” pés
Iscas: streamers, dry flies, ninfas, terrestres e imitação de gafanhotos

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