Texto:Alessio Freire
Fotos: arquivo do autor
A importância dos afluentes da região.
Entre Três Marias e Pirapora, os principais afluentes são: Rio Espírito Santo, Abaeté, Rio de Janeiro, Tapera e Formoso, estes rios são de vital importância para a fauna ictiológica da região. Com a construção da barragem de Três Marias, as enchentes naturais que abasteciam as lagoas marginais deixaram de ocorrer, dificultando sobremaneira o processo reprodutivo dos peixes. Sendo assim, no período de reprodução, muitos peixes, sobem pelos afluentes do São Francisco, para fazerem a desova, posto que a temperatura da água e o ph se apresentam mais adequados para as espécies nestes locais, pois a água que vem da barragem possui temperatura média anual entre 23 e 24 graus, por sair do fundo do lago, a uma profundidade de quase 70 metros.
As famosas veredas do sertão, fontes de água, caracterizadas pela presença dos buritis, espécie de coqueiro, também tem função primordial na vida destes afluentes, já que suas nascentes contribuem muito para a manutenção do volume de água dos rios menores que ajudam a irrigar o Velho Chico e na maioria das vezes melhorando a qualidade de sua água.
Velhas e novas ameaças ao rio São Francisco
Pesca predatória
Segundo o Sr. Norberto, o número de peixes do rio não aumenta, mas os pescadores profissionais aumentam a cada dia, de acordo com ele, a algum tempo, para se obter uma licença de pesca profissional, o interessado passava por uma pesquisa in loco, onde era verificado se o candidato realmente viveria só da pesca, hoje, conta Norberto, qualquer um pode pedir sua carteira e pescar a vontade. Nota-se então que não há estudos de impacto, referentes ao limite máximo de pescadores profissionais em determinado trecho do rio, lamentavelmente este fato não é exclusividade no São Francisco.
A pesca subaquática em um rio como o São Francisco chega a ser criminosa, pois os peixes estão limitados pelas suas barrancas, diferentemente do que acontece no oceano, ainda de acordo com o vice-presidente da Ong, para lá se dirigem mergulhadores de várias regiões, praticando a pesca subaquática comercial.
Apesar de autorizadas pela legislação vigente, as chamadas redes de caceio, também ocorrem com freqüência no rio, segundo o Sr. Dimas, (foto) pescador profissional que pesca apenas com anzóis, estas redes podem ocupar até 1/3 da largura do rio, e vão descendo “varrendo” o que está pela frente, segundo ele, em suas pescas noturnas, ele tem que sair rápido com seu barco, para não ser também malhado por estas redes.
Matrinxã, capturada com fly
Desmatamento dos cerrados
O desmatamento no cerrado, para dar lugar a pastos, plantações, ou simplesmente para produção de carvão ilegal, também é uma grande ameaça ao rio, pois ali, a água infiltra no solo, alimentando lençóis freáticos, formando as veredas, que são nascentes que abastecem os afluentes do São Francisco, além de manterem um equilíbrio climático e ecológico em meio ao grande sertão.
Potencial para turismo de pesca internacional?
Muitos sabem que o Brasil é um importante destino para a o turismo de pesca internacional, porém, estes turistas na maioria das vezes, freqüentam apenas a Amazônia, em busca da captura de grandes tucunarés, em virtude do forte marketing feito pelos empresários que possuem seus negócios na região e também devido à abundância da espécie e baixa pressão da pesca extrativista, principalmente nas regiões mais distantes de Manaus.
Na Amazônia a pesca é praticada cerca de quatro meses por ano, devido à ocorrência das cheias, para pescar e não matar nenhum peixe, cada turista estrangeiro deixa cerca de U$5 mil dólares no país em média.
O autor e o salminus franciscanus, devolvido após a captura
O Rio São Francisco, na região de Três Marias, está a menos de 3 horas de carro de Belo Horizonte, cidade que possui um excelente aeroporto internacional. No São Francisco, a pesca com iscas artificiais, a preferida pelos turistas estrangeiros pode ser praticada durante seis meses por ano e o peixe é monumental e exclusivo, o dourado, podendo ser capturado com fly ou plugs.
. Mas atualmente, em vez de colher dólares e gordas gorjetas, colhe-se o filé destes peixes para serem vendidos por poucos reais, vimos em um freezer em Três Marias, um dourado de doze quilos, que fora arpoado durante a noite, a carne deste peixe renderá pouco mais de R$300,00. Quanto exatamente ele renderia para o turismo de pesca e para o marketing de pesca do rio São Francisco? Exatamente não é possível afirmar, mas certamente, muito mais do que isto, se tomarmos como base a pesquisa feita na Argentina através de sistema de tageamento, este peixe geraria no turismo de pesca esportiva quase R$5.000,00, sem contar sua excelente carga genética e potencial reprodutivo, que teriam um valor a parte.
Para implementar o turismo internacional de pesca naquela região, é necessário que deixem os peixes viverem mais, para se reproduzirem mais, mobilizando os atores locais: proprietários de pousadas, guias de pesca, pescadores profissionais, restaurantes, órgãos ambientais para que estes analisem em conjunto o que mais vale a pena, vender um peixe por R$300,00 ou por R$5.000,00, neste último caso, vendendo e não entregando, porém esta decisão só pode ser tomada de forma conjunta.
Até hoje, o rio São Francisco cumpre um dos principais preceitos do santo que lhe empresta o nome, “dar mais do que receber”, mas até quando este santo rio suportará as ações extrativistas desenfreadas?