domingo, 27 de abril de 2014

Miguelópolis, uma década depois.
Por Aléssio Freire


   Um dos points de pesca de tucunarés mais famosos do sudeste, mostra porque a região  continua sendo  tão procurada pelos adeptos  desta espécie.
   Com população com pouco mais de 20 mil habitantes, a cidade tem como principais atividades econômicas, a agricultura, da cana de açúcar e o turismo de pesca.
 No município, há uma ampla praia pública a 2 km do centro; nesta, há uma rampa concretada com livre acesso. Nas imediações, também encontramos diversas pousadas e marinas.
    Para realizar esta pescaria, rebocamos o novo Big Bass Cross da Levefort, um bass boat compacto de alumínio equipado com o novo motor F40 da Yamaha.

O conjunto se mostrou muito versátil tanto para reboque como nas operações de embarque e desembarque. O Big Bass Cross, possui características imprescindíveis aos pescadores esportistas, tais como selins com regulagem de altura, caixa porta varas acarpetada, dupla plataforma e outras funcionalidades que mostram a verdadeira vocação deste barco – a pesca esportiva.  Na primeira tarde de pesca, tive a companhia do guia “Baianinho”. Disse a ele que minha última pescaria em Miguelópolis havia sido realizada a mais de dez anos , época em que apresentava o programa Caminhos da Pesca no SBT Minas, mas naquela época, resultado da mesma, não havia sido dos melhores. Baianinho comenta que desde que apareceram plantas aquáticas no lago de Miguelópolis, a pescaria melhorou muito. Naturalmente, podemos supor que mais alimentação e abrigo para os peixes, renovaram o ecossistema do lago, disponibilizando mais alimentos e abrigo para os peixes .

   Teorias e lembranças a parte, logo que saímos da marina, já enfrentamos um vento frontal que provocou ondas bem razoáveis. Pescaríamos em algumas galhadas sugeridas pelo guia, mas com condições de tempo adversas, partimos para um braço do lado oposto da praia pública. Assim, começamos a pescar no início deste braço. Com águas mais calmas, era possível trabalhar com eficiência alguns sticks com rattle bem junto as margens.
  Sob o escaldante sol das 16 horas (horário de verão), em um trecho mais arborizado, houve um súbito ataque em minha isca de superfície, confesso que estava um pouco distraído, pensando no próximo arremesso, mesmo assim o peixe foi fisgado e pude perceber que era de bom porte, enquanto admirava o azulão a uns 2 metros do barco, simplesmente ele se soltou.  
    Com uma sensação de angústia, compensada pelo alto nível de expectativas em relação à novas capturas, seguimos com nossos arremessos; mas até ao final desta tarde, apenas dois pequenos peixes foram capturados.

   Na também ensolarada e quente manhã seguinte, com um novo guia, conhecido como “Corumbá”, aproveitamos o pouco vento e saímos a todo vapor em direção aos pontos indicados por ele.   Com o novo motor F40 4 tempos da Yamaha, aproveitei para testar o desempenho do conjunto, a velocidade maxima foi de 30 Mhp.
 O Big Bass Cross, pode receber motorização de até 60 HP, mas seu desempenho e principalmente consumo com o F40 agradaram bastante. A sugestão do Sr. Corumbá, era de tentarmos em locais mais rasos, porém distantes da margem.
  Navegar na represa de Miguelópolis é um grande desafio, pois há troncos submersos espalhados por diversas partes, assim a presença de um guia local é  recomendada.
 Insistimos muito nestes pontos, eu com iscas de superfície e o guia com meia água. Vez por outra, um exemplar menor era atraído pelas iscas de meia água.
   Apesar de saber que estes locais podem abrigar bons exemplares, sempre obtive melhores resultados pescando em braços, onde há maior presença de alimentos (pequenos peixes, camarões, etc), mas segui as sugestões do guia até a hora do almoço, ou melhor, do lanche.
   Após uma certa negociação, partimos para pescar em braços do lago,  no sentido da barragem, porém pescando do lado mineiro, no município de Uberaba.
  Podíamos ver com frequência a manifestação de pequenos peixes na superfície e nas margens. Vez por outra, alguns tucunarés caçavam pequenos lambaris e camarões, muito abundantes naquele trecho do lago.   
  Tudo indicava que os peixes poderíam mesmo estar mais presentes nestes braços, ao menos nesta época.
  Com isca de superficíe, no primeiro arremesso, uma traíra razoável ataca a isca e ao lado dela, dois tucunarés vem conferir o que está acontecendo, a traíra também escapa ao lado do barco e os tucunarés a acompanham.
  Nesta longa margem rasa, foram três ataques de traíras e alguns tucunarés menores.
  Este era meu último dia de pesca, pois no dia seguinte começaria o primeiro Tucunamig, um torneio de pesca organizado pela  Martinelli de Ribeirão Preto, em parceria com a Prefeitura local, barcos Levefort e outros parceiros, como a previsão seria de mais de cem embarcações, o melhor era pescar antes do torneio, com menor concorrência.
  Seguimos para uma grota um pouco mais adiante, onde havia também restos de uma construção submersa e diversas galhadas, talvez um antigo pomar da casa.
  Apesar de não ser de minha preferência, resolvi usar iscas de meia água, ali juntamente com o guia, tivemos várias capturas, porém de exemplares de menor porte.
  Um pouco mais abaixo, mas bem ao fundo da grota, o primeiro tucunaré amarelo compareceu e outro azul, foi capturado pelo guia.
  “Corumbá”, como todo bom guia, deixou para o final um ponto próximo da barragem, conhecido como ilha afundada, que é uma grande raseira no meio do lago. Arremessamos no entorno do local e apenas um pequeno peixe se manisfestou, antes de pescarmos em toda extenção deste trecho, a bateria do motor elétrico ficou sem carga, já eram mais de 16 horas.
  Retornamos para a marina para tentarmos outra bateria, lamentavelmente não havia nenhuma disponível, o guia de pesca desanimou, mas insisti em irmos até um braço próximo onde havia perdido um bom peixe no dia anterior.
  Chegamos e lá estava o guia “baianinho”pescando com um turista, pedi licença e disse que havia voltado para pegar o peixe perdido do dia anterior, a uns cem metros adiante, com isca de meia água, bastaram 3 arremessos para sentir um forte tranco na vara de 14 libras, certamente não era o peixe do dia anterior, esse era muito mais forte. O peixe arrancava facilmente minha linha de multifilamento da pequena carretilha, mas por sorte brigava limpo, após uma briga que valeu a viagem lá estava o azulão de Miguelópolis.

 Devidamente fotografado e devolvido, missão cumprida quase aos 45`do segundo tempo.
Dia seguinte fomos acompanhar o agitado Tucunamig, que teve largada na praia pública, com 102 embarcações.

Informações de performance do conjunto Big Bass Cross da Levefort com F40 da Yamaha:
Máxima velocidade com 2 ou 3 pessoas – 30 mhp.
Consumo a 30 mhp/6000 rpm -15,6 litros/hora
Consumo a 23 mhp/ 4000 rpm – 8,6 litros/hora


terça-feira, 5 de junho de 2012


Texto:Alessio Freire
Fotos: arquivo do autor

A importância dos afluentes da região.

Entre Três Marias e Pirapora, os principais afluentes são: Rio Espírito Santo, Abaeté, Rio de Janeiro, Tapera e Formoso, estes rios são de vital importância para a fauna ictiológica da região. Com a construção da barragem de Três Marias, as enchentes naturais que abasteciam as lagoas marginais deixaram de ocorrer, dificultando sobremaneira o processo reprodutivo dos peixes. Sendo assim, no período de reprodução, muitos peixes, sobem pelos afluentes do São Francisco, para fazerem a desova, posto que a temperatura da água e o ph se apresentam mais adequados para as espécies nestes locais, pois a água que vem da barragem possui temperatura média anual entre 23 e 24 graus, por sair do fundo do lago, a uma profundidade de quase 70 metros.
As famosas veredas do sertão, fontes de água, caracterizadas pela presença dos buritis, espécie de coqueiro, também tem função primordial na vida destes afluentes, já que suas nascentes contribuem muito para a manutenção do volume de água dos rios menores que ajudam a irrigar o Velho Chico e na maioria das vezes melhorando a qualidade de sua água.



Velhas e novas ameaças ao rio São Francisco

Pesca predatória
Segundo o Sr. Norberto, o número de peixes do rio não aumenta, mas os pescadores profissionais aumentam a cada dia, de acordo com ele, a algum tempo, para se obter uma licença de pesca profissional, o interessado passava por uma pesquisa in loco, onde era verificado se o candidato realmente viveria só da pesca, hoje, conta Norberto, qualquer um pode pedir sua carteira e pescar a vontade. Nota-se então que não há estudos de impacto, referentes ao limite máximo de pescadores profissionais em determinado trecho do rio, lamentavelmente este fato não é exclusividade no São Francisco.

A pesca subaquática em um rio como o São Francisco chega a ser criminosa, pois os peixes estão limitados pelas suas barrancas, diferentemente do que acontece no oceano, ainda de acordo com o vice-presidente da Ong, para lá se dirigem mergulhadores de várias regiões, praticando a pesca subaquática comercial.
Apesar de autorizadas pela legislação vigente, as chamadas redes de caceio, também ocorrem com freqüência no rio, segundo o Sr. Dimas, (foto) pescador profissional que pesca apenas com anzóis, estas redes podem ocupar até 1/3 da largura do rio, e vão descendo “varrendo” o que está pela frente, segundo ele, em suas pescas noturnas, ele tem que sair rápido com seu barco, para não ser também malhado por estas redes.
Matrinxã, capturada com fly






Desmatamento dos cerrados



O desmatamento no cerrado, para dar lugar a pastos, plantações, ou simplesmente para produção de carvão ilegal, também é uma grande ameaça ao rio, pois ali, a água infiltra no solo, alimentando lençóis freáticos, formando as veredas, que são nascentes que abastecem os afluentes do São Francisco, além de manterem um equilíbrio climático e ecológico em meio ao grande sertão.





Potencial para turismo de pesca internacional?
Muitos sabem que o Brasil é um importante destino para a o turismo de pesca internacional, porém, estes turistas na maioria das vezes, freqüentam apenas a Amazônia, em busca da captura de grandes tucunarés, em virtude do forte marketing feito pelos empresários que possuem seus negócios na região e também devido à abundância da espécie e baixa pressão da pesca extrativista, principalmente nas regiões mais distantes de Manaus.
Na Amazônia a pesca é praticada cerca de quatro meses por ano, devido à ocorrência das cheias, para pescar e não matar nenhum peixe, cada turista estrangeiro deixa cerca de U$5 mil dólares no país em média.

O autor e o salminus franciscanus, devolvido após a captura

O Rio São Francisco, na região de Três Marias, está a menos de 3 horas de carro de Belo Horizonte, cidade que possui um excelente aeroporto internacional. No São Francisco, a pesca com iscas artificiais, a preferida pelos turistas estrangeiros pode ser praticada durante seis meses por ano e o peixe é monumental e exclusivo, o dourado, podendo ser capturado com fly ou plugs.
. Mas atualmente, em vez de colher dólares e gordas gorjetas, colhe-se o filé destes peixes para serem vendidos por poucos reais, vimos em um freezer em Três Marias, um dourado de doze quilos, que fora arpoado durante a noite, a carne deste peixe renderá pouco mais de R$300,00. Quanto exatamente ele renderia para o turismo de pesca e para o marketing de pesca do rio São Francisco? Exatamente não é possível afirmar, mas certamente, muito mais do que isto, se tomarmos como base a pesquisa feita na Argentina através de sistema de tageamento, este peixe geraria no turismo de pesca esportiva quase R$5.000,00, sem contar sua excelente carga genética e potencial reprodutivo, que teriam um valor a parte.

Para implementar o turismo internacional de pesca naquela região, é necessário que deixem os peixes viverem mais, para se reproduzirem mais, mobilizando os atores locais: proprietários de pousadas, guias de pesca, pescadores profissionais, restaurantes, órgãos ambientais para que estes analisem em conjunto o que mais vale a pena, vender um peixe por R$300,00 ou por R$5.000,00, neste último caso, vendendo e não entregando, porém esta decisão só pode ser tomada de forma conjunta.
Até hoje, o rio São Francisco cumpre um dos principais preceitos do santo que lhe empresta o nome, “dar mais do que receber”, mas até quando este santo rio suportará as ações extrativistas desenfreadas?

Matrinxãs no Fly - Rio Juruena


MATRINXÃS NO FLY  - Rio Juruena
Texto:Alessio Freire
Fotos: Arquivo do autor

As matrinxãs,são extraordinariamente esportivas ! Segundo o biólogo Alec Zeinad, peixes do gênero Brycon são chamados generalizadamente de matrinxãs, ele afirma que existem mais de 40 variedades de matrinxãs, porém os estudos ainda são incompletos.
   São originárias das bacias Tocantins-Araguaia, Amazônica e há também outra variedade presente na bacia do rio São Francisco.
   Podendo raramente chegar aos cinco quilos, quando fisgada, seja em lagos artificiais ou rios, a matrinxã, faz disparar o coração do pescador, pois imprime grande força em suas corridas, que via de regra são longas e com velocidade constante.
   Como tem grande procura tanto para a prática da pesca esportiva, quanto para o consumo, sua reprodução artificial vem sendo realizada com sucesso, podendo ser encontrada também na grande maioria dos pesque-pagues.
  Onívora, a matrinxã come frutos, sementes, flores, insetos e pequenos peixes, podendo ser capturada facilmente com iscas naturais ou artificiais.
  A matrinxã é relativamente seletiva em sua alimentação e bastante arisca, pois como a espécie está acostumada a se alimentar inclusive de itens que caem na água, sua percepção para os acontecimentos “externos” é bastante aguçada, exigindo muita astúcia do pescador.

    Fisgada com equipamento de fly classe 6, linha floating do tipo bass taper - Rio Juruena - Amazônia

   A matrinxã é descrita como Brycon sp, pertencente a grande família Characidae, de peixes com o corpo lateralmente deprimido e maxilar inferior proeminente.
   Com corpo de coloração prateada, alongado e pouco comprimido lateralmente, com dentes pontiagudos dispostos em várias fileiras no maxilar superior, o peixe poderá cortar a linha com alguma facilidade.
   A variedade mais conhecida pela maioria dos pescadores é a brycon sp. , os locais de pesca mais famosos para sua captura são: Rio Teles Pires, São Benedito, Juruena, Tapajós, Sete de Setembro, Kulene, Cel. Vanick, Xingu, Iriri, dentre outros, além dos rios Araguaia e afluentes.
  Outra variedade de matrinxã pode ser encontrada na bacia do São Francisco, esta possui coloração diferenciada daquelas presentes em outras bacias, trata-se da brycon orthotaenia, com cauda fortemente alaranjada, assim como as nadadeiras auxiliares, sendo mais comumente encontradas a partir da região de Três Marias, em Minas Gerais e em praticamente todos os afluentes do rio São Francisco, atingindo porte similar as suas “primas” da região amazônica (vide  matéria neste Blog).


  Mais raras, as Jatuaranas que também são denominadas popularmente de matrinxãs, se referem aos grandes exemplares, em especial da espécie Brycon amazonicus. Este peixe pode alcançar os 6/7 quilos de peso e distingue-se das demais espécies por apresentar coloração geral levemente dourada ou em tons de cobre ou bronze e apresentar as nadadeiras peitorais, pélvicas e anal enegrecidas, assim como a caudal.      

   Estratégias de arremessos

     Por ser muito cobiçada pelos grandes predadores, como pirararas, jaús, piraíbas e cachorras, é mais comum encontrarmos as matrinxãs amazônicas e da região do Araguaia, nos canais dos rios ou margens e em menor quantidade nos leitos. Obviamente por se sentir mais protegida em águas mais rasas e também pela maior facilidade em encontrar alimentos.

   Podem ser capturadas no entorno de ilhas, ao redor de arbustos, nas confluências de rios menores, mas também sob árvores floridas, com frutos ou sementes.
     Nos rios mais virgens, com presença de grandes peixes, o pescador deverá ter atenção redobrada ao capturar o matrinxã, pois um dos predadores mencionados acima, poderá abocanhá-la durante a briga.

    Já as matrinxãs do São Francisco, são o prato preferido dos grandes dourados, sendo assim, elas serão encontradas também ao redor de ilhas, mas sua preferência é por margens com grande presença de troncos ou árvores semi-submersas.

Sugestões de técnicas e equipamentos:

O equipamento de bait casting

Seja com carretilhas ou molinetes, as linhas de multifilamento com resistência em torno de 30 lbs tendem a ser mais eficientes, tanto pela resistência, quanto pela maior facilidade na fisgada, devido a sua baixa elasticidade.
Varas de 17 libras de ação rápida serão bastante eficientes.
As iscas artificiais como plugs de meia-água de até 10 cm, colheres, spinners, e sticks geralmente são muito atrativas para as matrinxãs.
Como iscas naturais: minhocas, massas, pequenos nacos de carne, coração de boi, frango, pequenos frutos, insetos em geral, são algumas das opções.

O equipamento de fly

    O equipamento classe sete é uma boa opção para a pesca das matrinxãs. Líder de 9 pés (2,74 m), com tippet de0,40 mm  com protetor de aço flexível, pois a matrinxã poderá cortar o tippet facilmente.
    Os streamers, poppers e hair bugs, em geral são muito eficientes, com destaque para os streamers.



       Nos rios amazônicos, as matrinxãs também se alimentam de matupiris ou lambaris na cor preta e prata, muito comuns por lá, sendo assim osstreamers com cores assemelhadas (cinza e preto) apresentam bons resultados, apesar de termos realizado capturas de matrinxãs com iscas de cores mais vivas, como verde-limão, por exemplo.

                                                                   

                                                                                           Matrinxã, Rio Juruena
Apresentação e ação da isca


   Quando os matrinxãs estão claramente se alimentando de frutas, sementes ou flores, neste caso, obter-se-á maior eficiência se as moscas tiverem certa semelhança de cor, formato, tamanho e se possível imitando a queda dos alimentos disponíveis no momento.
Com a água mais transparente, se houver espaço, o pescador de mosca deverá optar pelo back cast, em vez do roll cast, pois assim evitará afugentar os matrinxãs.
   Iniciando com arremessos mais curtos, fazendo varredura em forma de leque para depois realizar arremessos mais longos, também é uma boa estratégia para não espantar os peixes que estiverem mais próximos do pescador.
   Já as matrinxãs do São Francisco, são bem mais ariscas, devido a forte presença de seu maior predador, o faminto salminus franciscanus, sendo assim, para sua captura, o pescador deverá arremessar a menos de 50 cm das galhadas ou arvores semi-submersas comuns em alguns trechos do rio, caso contrário, o peixe não atacará a isca.

Melhores condições de pesca

   Os melhores índices de captura de matrinxãs, certamente ocorrerão com nível da água mais baixo, pois teremos a transparência necessária e maior concentração de peixes no rio, além do menor índice de seletividade, pois a competição por alimentos estará mais acirrada.
   Seja em rios amazônicos, na região do Araguaia, no São Francisco ou mesmo num pesque e pague, pescar matrinxãs será sempre sinônimo de alta esportividade e com equipamento certo, as brigas certamente serão memoráveis.

Trairão no Fly


Trairões no fly, quase ao acaso!

Texto: Alessio Freire
Fotos: arquivo do autor

Seja com iscas artificiais ou mesmo com um pedaço de peixe, fisgar um trairão da bacia amazônica sempre será sinônimo de um bom e inesquecível combate.
Em rios com águas transparentes com muitas pedras e troncos ou lagoas marginais, o pescador deve estar atento a presença desta primitiva espécie, se o peixe for visualizado, a chance de captura será bastante alta, se a isca cair em seu raio de ação, o ataque é certo.
Em andanças pelos rios Juruena, Iriri e Xingú em períodos mais secos, tivemos a oportunidade de localizar alguns trairões desta maneira.
Trairão no fly - Rio Iriri/Pará
 Minha primeira captura de trairão no fly, foi no rio Iriri no sul do Pará, de forma não planejada. Caminhando em suas margens,  tentando capturar alguns matrinxãs, que faziam estardalhaços na margem oposta, procuro um local mais raso para entrar no rio, para então realizar o arremesso com mais facilidade. De repente, vejo a menos de 3 metros a minha frente, em local de pouca profundidade, “ancorada” no leito pedregoso do rio, um trairão com pouco mais de 5 kg que parecia repousar sob o forte sol amazônico da “volta do dia”.
 Já que estava com um streamer montado para matrinxãs e neste, um pequeno empate de aço flexível, resolvi arriscar, mesmo com equipamento classe 6, digamos que um pouco subdimensionado para a situação, já que para pescar trairão nesta modalidade, para maior segurança e poder de alavanca, utilizaria um conjunto 8.
 A distância que o peixe estava da margem era tão pequena, que não arremessei, apenas deixei o líder fora dos passadores e acompanhei a descida da isca até as proximidades da bocarra do trairão, com toques curtos, o pequeno streamer verde limão com cauda branca, “dançava” diante dos olhos do peixe, quinze segundos, foi o tempo necessário para o bicho despertar e se interessar pelo engodo com pouco mais de 5 cm atado em anzol de haste longa n° 2. Nesta situação, fisgar era uma coisa e tirar o peixe da água era outra. Logo que sentiu a força contrária em sua mandíbula, o peixe nadou rápido rio abaixo, começando a tirar com facilidade a linha da carretilha, uma segurada na linha, fez com que o bicho saltasse com meio corpo fora d’água, a vara 6 de 9 pés de ação lenta, envergara ao extremo. Com uns dez minutos de um inesquecível combate, o peixe veio a margem.
Apesar de ter capturado diversas pirararas, bicudas, matrinxãs e tucunarés naquele trecho do rio, o combate com este trairão, utilizando um tippet 0,35 mm com equipamento 6 fora algo realmente inesquecível.
Trairão no fly – Rio Juruena

    Anos depois, ao planejarmos uma pescaria no rio Juruena, o amigo Christian Dalgas, que já realizara várias expedições por aquela região, sugeriu que ficássemos atentos a presença dos trairões. Incluí então na bagagem uma vara de fly de 9 pés classe 8, imaginando que serviria também para a pesca de bicudas, cachorras e matrinxãs mais avantajadas, mas principalmente se encontrasse um trairão, estaria melhor preparado.
Nossa expedição teria a duração de 10 dias, e certamente poderia tentar encontrar uma boa condição para realizar a pesca do trairão no fly.
De início, nossa busca foi por grandes peixes de couro, que a propósito, foi bem sucedida, com piraíbas, piraras e jaús.
Depois nos dedicamos a pesca com iscas artificiais, estávamos embarcados perto de um riacho que desaguava no Juruena,  quando alguns trairões começaram a atacar as nossas iscas de superfície. Mas naquela condição, era praticamente impossível e inviável realizar a pesca de trairões com fly.


Mais tarde, em outro acampamento, fomos até uma pequena ilha para que o Christian realizasse algumas fotos para seu livro sobre a Amazônia, desembarquei na ilha com equipamento de fly, fiz diversos arremessos no pequeno canal, não obtive ações.
Porém ao final de um trecho arenoso, a uns 15 ou 20 metros abaixo da ilha, lá estava uma sombra similar a um pedaço de madeira, aliás um bom pedaço de madeira, mesmo com óculos polarizado, devido a distância, não tinha a certeza de que seria um trairão ou um tronco submerso. Com um streamer preto e vermelho equipado com flash prateado, arrisquei o arremesso, deixando a isca cair lateralmente ao “objeto”, uma puxada curta, duas e na terceira, o “tronco” se mexeu em direção ao streamer, fiz outro movimento, desta vez mais lento e a sombra escura pegou a isca. Que peso ! Parecia um grande enrosco, o peixe era mesmo dos bons. A carretilha logo começa a “gritar”, por sorte, não haviam enroscos nas proximidades.
Foi o maior trairão que tive a oportunidade de capturar utilizando equipamento de fly.
Inesquecível !!!

Pirapitingas no fly


 Pirapitinga do Sul.
Texto: Alessio Freire
   Fotos: arquivo do autor

    

   Com as constantes intervenções da “civilização” na natureza, a brycon opalinus, tem se tornado cada vez mais rara, principalmente devido à degradação ambiental. Suas “irmãs” brycons mais conhecidas são a matrinxã, a piraputanga e a piracanjuba.
    Sua alimentação é composta por insetos, larvas, crustáceos e pequenos peixes, mas também, frutos, flores e até folhas, possuindo então hábito alimentar onívoro.
  Vivendo em águas límpidas, ela possui uma excelente acuidade visual, sendo tão arisca e desconfiada quanto à truta. Porém, mais bem adaptada ao clima tropical, pois diferentemente das trutas, ela sobrevive em águas com temperaturas superiores a 19° centígrados.


A Pirapitinga com seu corpo alongado e grande cauda, possui características marcantes: Uma mancha escura pouco antes da nadadeira caudal e força desproporcional ao seu tamanho.



O riacho da Biboca

   Para encontrá-las fomos ao riacho da Biboca, pertencente a Bacia do Rio Grande, ele fica “escondidim” em meio às serras próximas aos municípios de Guapé e Capitólio, no interior de Minas Gerais.

   Trata-se de um curto trecho preservado, que em parte se deve ao proprietário da fazenda Coromandel, Sr. Ivanir, que não deixa ninguém matar pirapitingas por lá, e por outro lado, a partir deste ponto até sua nascente, não há áreas de cultivo e nem habitações em suas margens, devido ao relevo acidentado.

  Rio abaixo, ainda é possível encontrar alguns pontos de pesca, que vão se tornando mais escassos à medida que o riacho se aproxima do lago de Furnas, no município de Capitólio(MG). Através de imagens de satélite, observamos diversas plantações em suas margens, que provocaram o desmatamento ciliar, assoreamento e falta de condições biológicas para a sobrevivência da espécie.
  

Pescando no ribeirão da Biboca
  
 
  Após uma boa prosa com o Sr. Ivanir, proprietário das terras onde fica este trecho do riacho da Biboca e a cachoeira do Lobo, iniciamos uma caminhada por uma trilha beira rio por cerca de 400 metros até a cachoeira. Vez por outra, era possível visualizar uma Pirapitinga, que tão logo notava nossa presença, nadava para debaixo das pedras. Tão ariscas quanto às trutas.
  A cachoeira do Lobo é muito procurada por banhistas, por isto, agendamos nossa pescaria para um dia de semana.
Nesta pescaria foi à família toda, até a dálmata. Depois de 30 minutos de caminhada num cenário exclusivo, chegamos ao ponto final. A exuberante cachoeira do Lobo, com uma queda livre de quase 5 metros, onde se forma um grande poço. Ali a pirapitingas se agrupam para esperarem os alimentos que vem da grande queda d’água.


Pescando com fly

  Como já havia pescado por lá em outras oportunidades, notei que os resultados eram melhores quando a isca podia ser arremessada logo “nos pés” da cachoeira. Porém com o vento frontal advindo da queda d’água, realizar estes arremessos era um desafio.
  Já sabendo desta dificuldade, para obter arremessos mais longos, utilizei uma vara de fly classe 6, porém com 10 pés (3,05 metros) de comprimento com linha sinking.
  Um pequeno streamer lastreado verde limão de atado próprio e uma tradicional Black Matuka renderam bons resultados.
  Em outros trechos do rio, sem fortes ventos frontais, equipamentos de fly classe 2 a 4 são ideais para a pesca de pirapitingas.

As capturas

  Na cachoeira, começo arremessando o streamer verde limão atado em anzol de haste longa nº6, com a expectativa de testar a nova isca levemente lastreada. Consigo colocá-la na queda d’água, depois de afundar um pouco, dou início ao recolhimento em velocidade média, e de cara uma Pirapitinga se encanta com a isca e nada velozmente em direção ao poço, para em seguida escapar.

  No segundo arremesso, a pegada típica e a corrida rápida inauguraram minha vara de mosca, fazendo arquear o longo caniço de 4 partes. Como o poço era largo, a briga com a Pirapitinga podia ser curtida tranquilamente, sem riscos de enroscar ou de passar a linha por entre pedras.
 As investidas abruptas, não deixavam dúvidas, havia um grande peixe esportivo na outra ponta da linha.
 Era um indicativo de que a pescaria seria promissora, e foi!
Ao arremessar, esperava cerca de 5 a 10 segundos, para o afundamento da linha e da isca, em seguida iniciava o recolhimento com velocidade variando de
média a rápida, em ambos os casos as pirapitingas atacavam.

  Como as pirapitingas já são ariscas, por serem mineiras, estas ainda pareciam ser mais desconfiadas, sendo assim, após alguns arremessos era preciso trocar a isca e assim variando entre uma e outra, foram várias capturas ao longo do dia.
A Luna também curtiu o passeio

  Em outros trechos do rio, ainda com fly, o ideal é utilizar varas mais curtas, de 7’3” pés por exemplo, para facilitar os arremessos sob árvores.
Neste caso o líder deve ser  transparente e ter o mesmo comprimento da vara.
  Com linha floating é possível experimentar alguns dry flies (moscas secas) que flutuam, nestes casos, as capturas serão ainda mais emocionantes.
  Para pescar em trechos mais estreitos do rio, o pescador deve tomar muito cuidado nas aproximações dos pesqueiros, caso contrário a pirapitinga nadará para debaixo de uma pedra e não sairá de lá tão cedo.

 

Dicas:

-Veículo: O acesso é feito por estrada de terra, por isto evite utilizar veículos muito baixos.

-Período: De outubro a março a pescaria é mais promissora, mas é possível pescar o ano todo.

-Hospedagem: Na própria fazenda há uma pousada com restaurante e área de camping, procure saber antes se terão banhistas na pousada.

- Outras pescarias próximas: Devido à proximidade com o lago de Furnas, vale a pena dispor de um tempo extra para se dedicar a uma pescaria de tucunarés, seja em Capitólio ou Guapé.


 Fortemente ameaçada de extinção, a Pirapitinga somente sobrevive em riachos oligotróficos, que pode ser traduzido em uma condição original (anterior aos impactos humanos) já denominada por alguns de era oligotrófica.
São águas que apresentam muito baixas concentrações de nutrientes, especialmente compostos de fosfato e azoto.
Diante desta  situação, praticar o pesque solte é primordial para evitar a extinção da espécie.
Equipamentos:

Flyfishing – Classes 3 a 6.Para a pesca na cachoeira comprimento de 9 a 10 pés. Para linha sinking ou sinking tip: líder de 1,5 metros e tippet 0,30mm
Para linhas floating: Lider de 1,80 a 2,2 metros com tippet 0,20 ou 0,25mm
 Para  trechos mais estreitos, varas com comprimento de 7’3” a 7’6” pés
Iscas: streamers, dry flies, ninfas, terrestres e imitação de gafanhotos